Sim, meu Deus, liberdade, para quê? E para quê esses países livres ou considerados livres, para os quais esse ideal de Liberdade constitui a principal herança das antigas cristandades europeias? Esta tirada, atribuída a Lênin, que dá título à reunião das últimas conferências de Bernanos, poderia parecer menos atual hoje, em um mundo em que, de qualquer jeito, as liberdades democráticas fazem seu caminho, ainda que restem no planeta imensas manchas onde aquilo que impera é a servidão sob suas diversas faces, a prisão de contestadores, o esmagamento ideológico ou econômico das massas. Mas será que essa liberdade com que nos deleitamos é tão real assim? Não vemos, dia após dia, crescer o poder do Estado, e a tecnocracia infiltrar-se nas veias de nossa vida cotidiana? É difícil também abstrair os milhões de excluídos que nossas sociedades fabricam e para os quais — é um clichê recorder isso — algumas de nossas liberdades mais concretas, como a de comprar, entre outras, têm o verdadeiro rosto da ironia. Sim, no fim das contas, liberdade, para quê? Esse luxo… A pergunta já se colocava exatamente nos mesmos termos em 1945, quando, vencido o nazismo, a Europa podia acreditar— se libertada do pesadelo totalitário. Ela se colocava nos mesmos termos, com a única diferença de que Bernanos era o único, rigorosamente o único a colocá-la.