O livro tem como objetivo analisar os mecanismos ideológicos de dominação que foram criados e vivenciados cotidianamente através das relações de trabalho e de lazer entre o empregado e o empregador da fábrica Nitro Química Brasileira (1953–1957), estendendo-se ao bairro de São Miguel Paulista. No intuito de entender melhor esse percurso histórico, fez-se necessário o aprofundamento nas relações políticas e econômicas dos diretores da empresa com os representantes do poder da época, como Getúlio Vargas, com a religiosidade, com a política assistencialista, com a construção do espírito harmonioso fabril, com a reprodução da educação moral e cívica, com os esportes praticados dentro do Clube de Regatas, enfim, estratégias que tentaram organizar uma construção ideal de «Família Nitrina». Com as necessidades de muitos operários e moradores sendo saciadas pelo sonho do progresso e da civilização moderna, em meio à construção utópica de uma nova nação que representava o desenvolvimento burguês-industrial, a propaganda foi um dos instrumentos de poder à manutenção ideológica dos diretores da empresa através do Nitro Jornal e suas várias linguagens utilizadas. O controle ideológico sofreu as consequências do próprio domínio com o passar dos anos, e a má preparação dos chefes e dos seus operários, o maquinário velho e ultrapassado, os baixos salários, as explosões e os vários acidentes, enfim, a realidade cotidiana começou a quebrar a fantasia de crescimento rápido pela exploração vivenciada, ocasionando assim uma luta de classes, tanto no sentido material como no sentido cultural.